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Foto do escritorSabrina Kaely

10 recomendações sobre Terapia Nutricional em UTI


A personalização da nutrição na UTI é essencial para o futuro dos cuidados intensivos. Pensando nisso, um artigo publicado em julho desse ano na Critical Care, reuniu 10 perguntas e respostas com base nas dúvidas mais frequentes sobre a terapia nutricional personalizada no cuidado intensivo. O artigo teve como objetivo descrever o progresso atual da nutrição na UTI, baseando-se nas recomendações de diretrizes atuais da ESPEN (European Society for Clinical Nutrition and Metabolism) e ASPEN (American Society for Parenteral and Enteral Nutrition).


Confira as recomendações a seguir:


1. Início Precoce da Nutrição Enteral em UTIs

Em unidades de terapia intensiva (UTIs), a recomendação primordial é começar a administração da nutrição enteral de forma precoce, geralmente iniciando entre 24 a 48 horas após a admissão do paciente. Essa abordagem tem demonstrado diversas vantagens significativas, incluindo a redução das alterações na barreira intestinal que são comuns em pacientes críticos. Além disso, está associada à diminuição das complicações, da morbidade infecciosa e do tempo de internação hospitalar.


2. Avaliação da Oferta Calórica

A calorimetria indireta (CI) é o método preferencial para calcular a oferta de energia para pacientes de UTI. Isso ocorre devido às suas várias vantagens notáveis, incluindo alta precisão, simplicidade e rapidez de execução, além da capacidade de identificar subalimentação ou superalimentação. De acordo com especialistas, a recomendação é fornecer menos de 70% do gasto energético de repouso (GER) medido por CI, o que equivale a uma faixa de 10 a 15 kcal/kg. Aumentar essa oferta pode ser considerado à medida que o paciente se estabiliza.


3. Administração de Proteína

Os especialistas aconselham iniciar a administração de proteína em uma dose mais baixa, abaixo de 0.8 g/kg/dia, com a possibilidade de aumentá-la para ≥ 1,2 g/kg/dia à medida que o paciente se estabiliza. Doses elevadas devem ser evitadas em pacientes instáveis e na presença de lesão renal aguda sem terapia de substituição renal contínua. Para determinar a dose personalizada ideal, a preferência recai sobre a utilização da massa magra como referência, ao invés do peso corporal total, com técnicas como bioimpedância, ultrassonografia e tomografia podendo ser úteis.


4. Nutrição Parenteral em UTI

A nutrição parenteral pode ser uma alternativa viável na UTI, principalmente a nutrição parenteral suplementar precoce, personalizada de acordo com a necessidade individual do paciente. A nutrição parenteral pode reduzir complicações infecciosas, tempo de ventilação, mortalidade e oferecer outros benefícios quando a nutrição enteral não pode ser administrada a curto prazo, produzindo resultados semelhantes à nutrição enteral.

 

5. Nutrição Intermitente

De acordo com os autores, a alternância entre alimentação e jejum (nutrição intermitente) pode ser mais benéfica em comparação com a entrega contínua, embora seja necessária mais pesquisa para confirmar essa conclusão. Essa escolha se baseia em possíveis mecanismos protetores associados à alimentação intermitente, como a promoção da recuperação celular por meio da autofagia e a indução da cetogênese. Além disso, essa abordagem pode ajudar a atenuar desequilíbrios no ritmo circadiano, que estão associados a várias doenças.


6. Monitoramento da Terapia Nutricional em UTI

O monitoramento da terapia nutricional em UTI é fundamental, pois várias pesquisas evidenciam uma diferença entre a prescrição e a administração efetiva dos nutrientes. Nesse contexto, os especialistas enfatizam a necessidade de utilizar sistemas de informação computadorizados para rastrear e visualizar de forma precisa a quantidade de nutrientes realmente sendo administrados.


7. Deficiência de Micronutrientes em UTI

A deficiência de micronutrientes é comum em pacientes graves, mas muitas vezes não é identificada a tempo. Para melhorar essa situação, os micronutrientes devem ser avaliados após 6 a 7 dias na UTI, especialmente em pacientes com perdas substanciais, grandes drenos ou queimaduras. Os micronutrientes com maior risco de deficiência na UTI incluem cobre, selênio, zinco e ferro. Se os testes indicarem níveis 20% abaixo da referência, recomenda-se a reposição, seguida de novas avaliações entre 7 a 10 dias para monitorar a resposta à reposição.


8. Monitorização do Catabolismo e da Massa Muscular

O acompanhamento do catabolismo e da massa muscular é crucial na UTI, onde a perda muscular aguda e a fraqueza são sintomas comuns. Assim, previne-se a deterioração da função física. Uma abordagem útil para isso é a utilização de ultrassonografia muscular, tomografia computadorizada ou bioimpedância.


9. Nutrientes Anabólicos

A personalização do uso de nutrientes anabólicos na UTI é importante, com o objetivo de estimular a síntese de proteínas e/ou reduzir a quebra de proteínas musculares. Alguns nutrientes utilizados por atletas, como leucina, β-hidroxi-β-metilbutirato (HMB) e creatina, também mostram potencial na UTI devido às suas propriedades ergogênicas. A leucina atua como um substrato para a síntese de proteínas e demonstrou melhorar a massa muscular em idosos com sarcopenia. Por outro lado, a creatina aumenta a produção de ATP nas células musculares, um componente essencial para a síntese de proteínas.


10. Recuperação Pós-UTI

Para promover a recuperação da função física após a alta da UTI, é fundamental fornecer uma nutrição bem planejada. Além disso, programas de reabilitação que incluam exercícios cardiopulmonares personalizados desempenham um papel fundamental. Por fim, uma alta parcela de pacientes apresenta deficiência de testosterona durante e após a internação. Assim, a terapia com testosterona ou análogos pode melhorar resultados clínicos e função física, especialmente em casos de queimaduras graves.

 

Fonte:

Wischmeyer, PE, Bear, DE, Berger, MM et al. Terapia nutricional personalizada em cuidados intensivos: 10 recomendações de especialistas. Cuidado Crítico 27, 261 (2023). https://doi.org/10.1186/s13054-023-04539-x


Como referenciar este post?

MACHIAVELLI, Sabrina Kaely. 10 recomendações sobre Terapia Nutricional em UTI. Post 523. Nutrição Atenta. 2023.

Instagram: @nutricionistasabrinakaely

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