A alimentação, além de necessidade básica do ser humano, tem papel importante na prevenção e tratamento de doenças, não à toa, a prescrição dietética é extremamente indispensável nas unidades hospitalares e ambulatórios com objetivo de melhora do quadro do paciente.
Entretanto esse papel “curativo” da dieta é repensado quando se trata de cuidados paliativos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), "cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais".
Quando falamos em cuidado paliativo a ideia que vem à cabeça é de um paciente terminal, que está morrendo e não há mais o que fazer por aquela pessoa. É importante desmistificar esse conceito. Em alguns lugares o termo até mudou para Cuidado de Suporte à Terapêutica. São cuidados para pessoas com alto grau de sofrimento, podendo ser devido a um câncer ou qualquer outra doença como insuficiência cardíaca, renal respiratória, entre outras.
Sendo assim, qual o papel da nutrição nestes cuidados?
Nesse momento, a alimentação deve ser um ato humanizado, sem pretensão de atingir recomendações nutricionais ou qualquer restrição que, durante o tratamento seria realizado, como por exemplo restrição de sódio e água na doença renal, o objetivo da alimentação é proporcionar conforto e prazer.
Alguns conflitos entre familiares e paciente podem aparecer na tentativa de reverter a situação, sendo assim a equipe de atendimento deve ser formada por profissionais qualificados, pois cuidado paliativo não é “achismo” e nem “o que eu faria se fosse comigo? ” Os familiares, na angústia de ver o paciente com baixa ingestão alimentar quer força-lo a comer, muitas vezes questionando o cuidado nutricional para que seja prescrito uma fórmula que aumente as calorias (na tentativa de não perder peso e ser ofertado os nutrientes necessários).
Nesta situação, cabe a equipe mediar os conflitos, deixando claro aos familiares que o conforto, as escolhas e a autonomia do paciente devem ser respeitados, enquanto ele estiver consciente e em condições de decidir, ou na existência de diretivas antecipadas de vontade. Caso contrário, as decisões deverão ser tomadas pela equipe multiprofissional, levando em consideração os valores do paciente, consultados junto a família.
A introdução de sonda de alimentação também é um assunto com muitos questionamentos na prática clínica e literatura científica. Colocar a sonda ou não? E quando ela já foi introduzida, qual o momento de retirar? De novo, a decisão do paciente deve ser prevalecida, quando isso for possível. Neste momento, pode ser difícil para os familiares entenderem que o doente está morrendo em função da doença de base e não pela falta de alimentação e hidratação, e cabe a equipe acolher e esclarecer temores e dúvidas dos familiares.
Embora seja preconizado que a alimentação, como necessidade básica do ser humano, deva ser mantida nos cuidados paliativos até o final da vida, há de se usar a ética e a empatia para avaliar o momento da sua interrupção e perceber que no final da vida, nenhuma terapia deve substituir a dignidade humana.
Referências:
Cuidados Paliativos – INCA <https://www.inca.gov.br/tratamento/cuidados-paliativos> Acesso em 09/08/2022
Saúde, Ministério Da. Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo: Hospital Sírio-libanês, 2020.
ELEUTERI, Stefano et al. End of Life, Food, and Water: ethical standards of care. Perspectives In Nursing Management And Care For Older Adults, [S.L.], p. 261-271, 2021. Springer International Publishing.
Como referenciar este post?
MACHIAVELLI, Sabrina. Alimentação para conforto: o papel da nutrição nos cuidados paliativos. Post 308. Nutrição Atenta. 2022.
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