A dieta cetogênica tornou-se um padrão alimentar popular usado para perda de peso. A base desta dieta é a redução extrema da ingestão de carboidratos (5-10% do total das necessidades dietéticas diárias), sendo que a recomendação para indivíduos saudáveis é de no mínimo 45%, o restante das necessidades é substituído por gorduras, chegando a um percentual de até 80% de lipídios, sendo que o recomendado é de no máximo 35%.
O baixo consumo de alimentos fontes de carboidratos limita a ingestão de produtos integrais, frutas e vegetais, o que pode resultar em ingestão insuficiente de fibras, vitaminas e antioxidantes. Além disso, o maior consumo proporcional de gordura muitas vezes acarreta uma maior ingestão de ácidos graxos saturados e produtos de origem animal altamente processados. Por isso, a relação entre dieta cetogênica e risco cardiovascular é um tema polêmico e ainda profundamente investigado.
As diretrizes mais recentes da Sociedade Europeia de Cardiologia sobre a prevenção de doenças cardiovasculares, lançadas em 2021, abordam o papel crucial da dieta na prevenção de doenças cardíacas e recomendam a dieta mediterrânea como a mais vantajosa em termos de resultados a longo prazo. A diretriz também menciona sobre o possível efeito das dietas com muito baixo teor de carboidratos, como a cetogênica, entretanto, seus efeitos não são duradouros, mostrando benefícios em curto prazo. Além disso a diretriz enfatiza sobre a importância da qualidade dos nutrientes para a saúde a longo prazo, incluindo a redução de ácidos graxos saturados e o aumento da ingestão de vegetais, frutas e fibras alimentares. Nesse sentido, a dieta cetogênicageralmente não atende a esses critérios estabelecidos.
Sendo assim, de acordo com uma revisão publicada na edição de março de 2024 da revista Current Problemsin Cardiology a dieta cetogênica pode não ser uma opção segura para pessoas com doenças cardíacas. A revisão examinou as evidências atuais relacionadas ao aumento do risco de doenças cardíacas associado às dietas cetogênicas. Embora essas dietas possam levar a uma redução significativa da massa gorda e do peso a curto prazo, há escassas evidências de benefícios a longo prazo. Mesmo que as dietas cetogênicas possam diminuir os níveis de triglicerídeos no sangue, elas tendem a aumentar os níveis de colesterol LDL, conhecido por contribuir para o estreitamento das artérias. Além disso, os benefícios observados em relação à redução do açúcar no sangue e da pressão arterial a curto prazo tendem a desaparecer com o tempo.
As restrições extremas de carboidratos impostas pela dieta podem levar as pessoas a evitar a maioria das frutas e vegetais, optando por consumir grandes quantidades de folhas verdes. No entanto, é importante notar que a vitamina K presente nesses alimentos pode interferir com a eficácia do medicamento anticoagulante varfarina, usado por alguns pacientes cardíacos. Além disso, os medicamentos conhecidos como inibidores do SGLT-2, frequentemente prescritos para tratar diabetes e insuficiência cardíaca, podem não ser compatíveis com uma dieta cetogênica, como aponta a revisão.
Fonte: POPIOLEK-KALISZ, J. Ketogenic diet andcardiovascular risk – state of the art review. CurrentProblems in Cardiology, v. 49, n 3, 2024. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0146280624000410>. Acesso em 22 abril 2024.
Como referenciar este post?
MACHIAVELLI, Sabrina Kaely. Dieta Cetogênica: Uma Abordagem Controversa para a Saúde Cardíaca. Post 627. Nutrição Atenta. 2024.
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