Casos de clostridium botulinum

Não há consenso de que haja um aumento claro e generalizado de casos de botulismo no Brasil para todos os estados, mas há algumas evidências de surtos recentes em determinadas regiões (por exemplo, Bahia e Minas Gerais) e de fatores que favorecem a ocorrência. A seguir apresento uma análise científica com motivos potenciais, dados epidemiológicos recentes, e lacunas que podem influenciar essa percepção. Sempre será importante considerar subnotificação, vigilância, e contexto local.

NUTRIÇÃO

Patricia Cintra

9/13/20253 min read

a man riding a skateboard down the side of a ramp
a man riding a skateboard down the side of a ramp

Evidências recentes do cenário epidemiológico

  1. Surtos na Bahia em 2024
    Em 2024, a Bahia já confirmou seis casos de botulismo, com duas mortes.
    A suspeita é de que o veículo de contaminação tenha sido mortadela de frango.

  2. Dados históricos de notificações
    Entre 2006 e início de 2020, foram notificados 413 casos suspeitos de botulismo no Brasil, sendo que após eliminar duplicidades houve 399 registros válidos. Aproximadamente 20,8% desses casos foram confirmados.

  3. Fontes de transmissão mais frequentes

    • Conservas vegetais artesanais (palmito, picles, etc.), embutidos, produtos de origem animal, alimentos curados ou defumados, peixes salgados ou fermentados.

    • Alimentos clandestinos ou sem selo de inspeção.

Possíveis razões para aumento ou para surtos mais visíveis

Com base na literatura e nos relatórios, os fatores abaixo parecem contribuir para surtos ou para que casos sejam mais visíveis:

Fator Descrição Produção / conservação inadequada de alimentos artesanais ou caseiros Conservas caseiras sem esterilização adequada, armazenamento em condições que favorecem ambientes anaeróbicos, falhas de higiene, uso de recipientes mal fechados ou danificados.

Popularização ou consumo de alimentos armazenados ou processados inadequadamente Alimentos preparados fora do ambiente doméstico ou por pessoas sem formação técnica; também produtos clandestinos com inspeção deficiente.

Problemas de fiscalização sanitária Falta de selo de inspeção, produtos sem certificação adequada, atuação limitada de vigilância sanitária em algumas áreas.

Notificação obrigatória e vigilância epidemiológica A doença é de notificação compulsória em até 24 horas no Brasil. Com vigilância mais ativa ou com surtos locais mais divulgados, há maior percepção de “aumento” quando, na verdade, pode haver melhor rastreamento.

Desconhecimento ou má prática doméstica Conservas caseiras de pessoas com pouca orientação técnica, desconhecimento dos riscos da toxina, ausência de fervura ou tratamento térmico adequado.

Alimentos industriais ou semi-industriais deteriorados Latas estufadas, vidros embaçados ou danificados, produtos fora de validade ou armazenados de forma incorreta.

Limitações e incertezas

  • Subnotificação: Muitos casos suspeitos não chegam a confirmação laboratorial ou podem não ser diagnosticados como botulismo, o que reduz estimativas reais.

  • Capacidade laboratorial: Detecção da toxina é complexa; análises de alimentos podem nem sempre ser possíveis.

  • Frequência rara: Mesmo quando há surtos, botulismo continua sendo uma doença rara, o que dificulta observações estatísticas robustas de tendência.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA BRASIL. Bahia registra seis casos de botulismo, com duas mortes confirmadas. Brasília: EBC, 26 set. 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-09/bahia-registra-seis-casos-de-botulismo-com-duas-mortes-confirmadas. Acesso em: 13 set. 2025.

APM – ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA. Ministério atualiza dados sobre botulismo no Brasil. São Paulo, 5 mar. 2020. Disponível em: https://www.apm.org.br/ministerio-atualiza-dados-sobre-botulismo-no-brasil/. Acesso em: 13 set. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. Botulismo. Brasília: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/b/botulismo. Acesso em: 13 set. 2025.

CFMV – CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Botulismo: alimentos clandestinos aumentam risco de casos da doença. Brasília, 27 set. 2024. Disponível em: https://www.cfmv.gov.br/botulismo-alimentos-clandestinos-aumentam-risco-de-casos-da-doenca/comunicacao/noticias/2024/09/27/. Acesso em: 13 set. 2025.

FOLHA DE S. PAULO. Bahia tem surto de botulismo com 6 casos e 2 mortes. São Paulo, 25 set. 2024. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2024/09/bahia-tem-surto-de-botulismo-com-6-casos-e-2-mortes.shtml. Acesso em: 13 set. 2025.

NÚCLEO DO CONHECIMENTO. Conservas: práticas de preparo e riscos de contaminação. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 7, n. 12, 2022. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/nutricao/conservas. Acesso em: 13 set. 2025.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Saúde. Conservas, enlatados e embutidos clandestinos podem causar botulismo. Porto Alegre, 15 set. 2023. Disponível em: https://saude.rs.gov.br/conservas-enlatados-e-embutidos-clandestinos-podem-causar-botulismo. Acesso em: 13 set. 2025.

SILVA, M. G. et al. Botulismo no Brasil: vigilância epidemiológica e laboratorial. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 37, n. 3, p. 239-244, 1995. Disponível em: https://revistas.usp.br/rimtsp/article/view/31331. Acesso em: 13 set. 2025.