Você conhece o whey de maconha?
O termo “whey de maconha” é popular, mas não se trata de maconha psicoativa: o suplemento é feito a partir da semente de cânhamo (uma variedade de Cannabis sativa com teor muito baixo de THC).
NUTRIÇÃO
Patricia Cintra
11/22/20254 min read


As sementes de cânhamo contêm uma fração proteica significativa e de boa qualidade: são ricas em aminoácidos essenciais, têm alta digestibilidade e perfil comparável a outras proteínas vegetais.
Além da proteína, o pó de cânhamo traz fibras, minerais (como magnésio e zinco), vitaminas, e ácidos graxos essenciais (ômega-3 e ômega-6).
Quais são os possíveis benefícios
Alguns dos benefícios atribuídos ou estudados para a proteína de cânhamo (“whey de cânhamo”) são:
Suporte muscular: por ser fonte proteica, pode ajudar na construção e recuperação muscular, embora sua densidade proteica por porção possa ser menor que a do whey tradicional.
Saúde cardiovascular: os ômegas presentes no cânhamo têm potencial protetor cardíaco, podendo ajudar a controlar colesterol e pressão arterial.
Propriedades anti-inflamatórias: a arginina (um aminoácido presente) e os ácidos graxos podem favorecer respostas anti-inflamatórias.
Saúde digestiva e saciedade: por ter fibras, pode favorecer a saciedade e regularidade intestinal, o que a torna interessante para controle de peso ou para pessoas que preferem alternativas vegetais.
Perfil nutricional “completo”: contém aminoácidos essenciais, o que a torna uma opção vegetal muito robusta.
No entanto, vale destacar que não há tantos estudos comparando diretamente a proteína de cânhamo com o whey tradicional de leite em todos os aspectos (como síntese protéica, retenção muscular, leucina, etc.).
Situação regulatória no Brasil – ANVISA
Até o momento, a comercialização de alimentos ou suplementos à base de cânhamo não é autorizada pela Anvisa.
Há ação regulatória recente: o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que o cultivo de cânhamo industrial (com teor de THC inferior a 0,3%) pode ser autorizado para pessoas jurídicas, para fins medicinais/farmacêuticos, e deu prazo para que a Anvisa regule esse cultivo.
A Anvisa já proibiu alguns produtos de cannabis sem registro, incluindo suplementos, por falta de autorização sanitária.
Segundo alguns sites especializados em regulação, alimentos de cânhamo no Brasil continuam proibidos conforme Portaria nº 344/98 da Anvisa.
Em 2025, o prazo para regulamentação do cultivo medicinal do cânhamo foi prorrogado para 31 de março de 2026.
Riscos, limitações e pontos de atenção
Apesar dos potenciais benefícios, o pó de cânhamo pode conter fatores antinutricionais, como ácido fítico, que pode diminuir a absorção de certos minerais. UOL
A densidade proteica (proteína por grama) pode ser inferior à de outras fontes vegetais ou do whey animal, o que pode demandar doses maiores para atingir o mesmo aporte protéico. ge
A falta de regulamentação significa risco: produtos comercializados sem aprovação podem não ter controle de qualidade (pureza, contaminantes, rotulagem).
Por não haver ainda regulação clara para alimentos de cânhamo, a aquisição nacional fica limitada; muitas formulações interessantes podem ainda depender de importação (com riscos regulatórios ou tributários).
Conclusão
O “whey de maconha” é na verdade proteína de cânhamo, um suplemento vegetal promissor, nutritivo e com perfil interessante para saúde muscular e metabólica.
No Brasil, não existe ainda autorização para uso genérico em alimentos/suplementos, segundo a Anvisa.
Regulamentações estão em curso (como o plantio de cânhamo industrial aprovado pelo STJ), mas o cenário regulatório ainda não está completamente definido.
Quem considerar usar proteína de cânhamo deve ficar atento à qualidade do produto, à legalidade local e às possíveis limitações (como menor teor proteico ou fatores antinutricionais).
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